O sofá começa com a mãe da minha avó, viajado, reformado, repassado. O tempo finito mostra suas marcas, e a natureza já o corrói viva por dentro; aquelas mulheres que cruzaram com ele ao longo de toda essa linha ondulada de tempo, continuaram o carregando, de casa em casa, de sala em sala.
Busco manter sua forma fiel, fazendo camadas grossas que resistam ao peso do acaso. Rasgo suas costas, a partir da reflexão de que devo permitir a interferência do tempo na escultura, até mesmo facilitando a sua entrada, não nego que ele se transforme em uma casa de bicho, pelo contrário, abro as janelas para que eles possam entrar.
Não poderia petrificar uma memória, quando nem mesmo um registro fotográfico consegue fazê-lo. Ao cobrir de concreto essa lembrança o tempo continuará afetando-a.